segunda-feira, março 26, 2007

Cinema: 300 de Esparta

Nós marchamos.
Desde a querida Lacônia
Desde a sagrada Esparta
Em nome da honra
Em nome da glória
Nós marchamos.


Assim começa o original escrito por Frank Miller, que narra de maneira romantizada a épica Batalha das Termópilas e dos 300 bravos espartanos que deram a vida em nome de um ideal. Um ideal de liberdade e compromisso, lealdade e retidão, um ideal de fazer o que é certo, custe o que custar. Uma história sobre um rei que aceitou o que a vida lhe colocou à frente, e abraçou seu papel como aquele que salvaria o mundo livre da tirania e crueldade, e pagaria com sua vida.

O filme não é um documentário, e nem se prende à fidelidade histórica tão exigida pela crítica. Não é um documentário, e nem o pretendia ser. A linguagem visual, a trilha sonora, a atuação dos atores, nada foi feito como se fosse um documentário. Ao contrário, é a narração épica, carregada de paixão e parcialidade de um dos eventos históricos mais importantes da idade antiga, e um dos mais belos também.

As histórias de amor podem ser lindas, e de fato o são, mas são os sacrifícios que fazemos, são as coisas das quais abrimos mão, que nos marcam na história, e Leônidas e seus 300 bravos hoplitas abriram mão de tudo, de suas famílias, de suas casas, de suas vidas, em nome daquilo que eles achavam certo. Abriram mão de tudo, menos de seu orgulho, e daquilo que eles realmente eram: guerreiros, espartanos, invencíveis.

Dá para notar que eu realmente gosto dessa história não é? Há 8 longos anos que eu espero pelo lançamento deste filme, desde que pus os olhos pela primeira vez na graphic novel de Frank Miller. Então resolvi escrever um pouco sobre os fatos que inspiraram o filme, sobre quem foi realmente Leônidas, quem eram os espartanos, e o que ocorreu na épica Batalha das Termópilas. Mas já aviso: o texto abaixo pode estragar algumas surpresas do filme para quem não conhece a história.

Leônidas foi rei de Esparta entre os anos de 490 a.C. a 480 a.C.. Ele assumiu o trono de Esparta sucedendo seu meio-irmão Cleômenas I, casando-se com sua sobrinha Gorgo. Era membro da família dos Ágidas, uma das duas da Diarquia de Esparta (a outra era os Euripôntidas). Leônidas era o 17º da linha Ágida, filho de Anaxandridas II, e dizia-se que ele era descendente direto de Hércules.

Lêonidas, em grego, significa “forte como um leão”, e o rei espartano honrou a alcunha pela qual era chamado: "O Leão de Esparta". Desde pequeno era conhecido pela sua força, bravura e inteligência, e chegou a ser dado como morto durante o Agoge, porém contrariando as probabilidades, sobreviveu ao inverno grego, sozinho na floresta, e retornou à Esparta vitorioso e pronto para se tornar de fato um guerreiro, aos 10 anos de idade.

O Agoge era o processo de educação espartano, pelo qual todos os jovens passavam. Através do Agoge, os espartanos eram ensinados na arte da guerra, tornando-se guerreiros fortes, determinados, patriotas e que nunca desistiam. Quando as mulheres espartanas enviavam seus filhos e maridos para a guerra, diziam-lhes "volta com teu escudo, ou sobre ele" ("volta vitorioso, ou morto"). Certa vez, Gorgo foi questionada por outras mulheres, onde lhe perguntaram porque as mulheres espartanas eram as únicas gregas que mandavam em seus homens. A resposta de Gorgo deixa claro o modo de vista espartano, e maneira como eles se relacionavam: "Ora, porque parimos homens de verdade!".

Quando os persas estavam para invadir a grécia, Leônidas buscou aconselhamento com os Éforos, um conselho de anciões que vivia isolado do resto de Esparta, e do Oráculo de Delfos. Leônidas foi então avisado que Esparta não deveria ir à guerra, pois estavam na época da Carnéia, um tempo sagrado no qual não deveria haver "marcha", e que por esse motivo os exércitos estavam proibidos de guerrear. Leônidas também foi avisado de que Esparta iria cair, e que a única maneira de salvá-la seria o sacrifício da vida de seu rei. Também na mesma época celebravam-se as olimpíadas em Athenas, e também por este motivo os atenienses e sua esquadra não iriam combater os persas.

A estratégia do rei persa, Xerxes I, era precisa. Subornar os influentes conselheiros gregos de diversas cidades, para que os mesmos não permitissem que seus exércitos guerreassem naquele momento, e aproveitar este tempo para posicionar suas tropas de aproximadamente 400 mil homens (de um exército total de 2 milhões e 600 mil que servia o Império Persa) e invadir a grécia com pouca ou quase nenhuma resistência. Ele apenas não contava que os "insolentes" espartanos iriam se colocar contra tão inteligente plano.

Com seu exército proibido de marchar, Leônidas reuniu somente sua guarda pessoal de 300 hoplitas e saiu em "caminhada" em direção às Termópilas, um desfiladeiro pelo qual os persas teriam que passar. Os hoplitas eram a unidade básica de infantaria espartana, guerreiros especializados no uso da lança, escudo e espada, criados desde crianças para serem os soldados perfeitos, os mais ferozes que a Terra já vira. Além dos 300 espartanos, juntaram-se a eles cerca de 7000 aliados de diversas outras cidades e aldeias, dentre elas Arcádia, Téspia, Tebas, Fócia, Corinto, e outras.

Xerxes nasceu em 519 a.C. e morreu em 465 a.C. Era filho de Dario I e neto de Ciro, o Grande. Mesmo não sendo o primogênito, foi indicado por seu pai no leito de morte para assumir o trono da Persa. Tinha como seu principal objetivo continuar a cruzada de seu pai, uma guerra iniciada e perdida por Dario, e que ficou conhecida como "As Guerras Médicas", e que foram terminadas na célebre Batalha de Maratona.

Em sua invasão à Grécia, após até mesmo a construção de um canal para agilizar o movimento de suas tropas, Xerxes viu suas forças serem emboscadas pelos espartanos em um desfiladeiro, as Termópilas (ou Portões de Fogo), onde o grande número de persas de nada valia contra as forças bem organizadas e treinadas dos gregos. Durante 3 dias os espartanos seguraram os invasores, derrotando mais de 40 mil persas somente no primeiro dia, fazendo com que boa parte do exército de Xerxes morresse ou batesse em retirada. Não fosse um ato de traição, talvez os espartanos tivessem realmente uma chance de vencer a batalha.

Um pastor de ovelhas chamado Efialtes, seduzido pelas promessas de ouro e poder dos homens de Xerxes, acabou por mostrar para os persas um caminho alternativo, um atalho escondido, que levaria as tropas persas para trás das forças gregas, e possibilitaria uma emboscada fatal. Uma vez que Leônidas percebeu o que estava acontecendo, dispensou os demais aliados e preparou seus homens para uma investida final. Junto com ele, ficaram ainda cerca de 700 tespianos, inspirados pelos espartanos e preparados para lutar até a morte.

Os espartanos eram criados de maneira que era inaceitável a idéia de bater em retirada, daí a frase dita pelas mulheres espartanas antes de enviar seus filhos e maridos à guerra: "volta com teu escudo, ou sobre ele". A idéia era de que, ou voltas vitorioso, ou morto. Quando Esparta ia à guerra era para vencer, ou morrer tentando. Uma visão muito parecida do que quase 2 mil anos depois viria a ser a classe samurai japonesa.

Com uma estratégia preparada para primeiramente cobrir a retirada das tropas que debandavam, os espartanos se preparavam para resistir ao ataque dos Imortais (guarda pessoal de Xerxes) pela retaguarda, e da cavalaria persa pela frente. Movendo-se para aniquilar o maior número possível de persas antes de sua queda, os espartanos mostraram para os invasores o poder da falange espartana, resistindo bravamente a cada chuva de flechas que os persas enviavam.

Para os guerreiros que ficaram ao seu lado, ele disse: "Almocem comigo aqui, e jantem no inferno". Além da "maneira espartana" de nunca fugir de uma batalha, Leônidas sabia que se ele fugisse o restante da Grécia também fugiria. No final, já cercado por seus inimigos, o rei Xerxes dá uma ordem a Leônidas: “Deponham suas armas e se entreguem", Leônidas responde apenas: “Venham pegá-las". São as últimas palavras do rei espartano. Atacados por todos os lados, foram massacrados sem piedade.

Segundo Heródoto, cujo relato tido como o mais aproximado do que realmente aconteceu, o corpo de Leônidas ficou nas mãos dos hoplitas espartanos até que o último deles fosse morto pelas flechas inimigas. Depois, Xerxes ordenou que a sua cabeça fosse cortada e seu corpo crucificado. Esse não era o costume persa, mas a raiva de Xerxes por Leônidas era tão grande que ele não resistiu a esta crueldade.

Os 10 dias que os espartanos conseguiram atrasar os persas foram o suficiente para que o clima mudasse na grécia, fazendo com que os persas tivessem que esperar mais 1 mês antes de iniciar de fato sua invasão. Neste tempo, foi possível que Esparta se reorganizasse e entrasse em guerra, juntamente com a reconstruída esquadra ateniense. Este tempo também foi suficiente para que Atenas fosse evacuada antes da chegada dos persas, que destruíram a cidade, porém não foram capazes de matar um ateniense sequer.

Pouco tempo depois da queda de Atenas, em conseqüência dos graves erros táticos que Xerxes cometeu, as tropas persas foram vencidas em Salamina e ele regressou à Pérsia derrotado, abandonando seu exército, que acabou se destroçando. O imperador Xerxes jamais conseguiu se recuperar da derrota para os gregos e a partir de então não quis mais se envolver no universo das guerras.

Apenas 40 anos depois o corpo de Leônidas foi devolvido aos espartanos, que ao contrário de suas tradições, enterreram-no com todas as honras e uma demonstração de tristeza nunca vista em Esparta, cujos cidadãos aceitavam a morte em batalha como uma parte do seu curso, e consideravam sinal de fraqueza chorar seus mortos.

Hoje em dia, nas Termópilas, há um monumento em homenagem ao grande Leônidas, com a seguinte inscrição:

“Venham buscá-las.”

E um outro monumento, mais antigo, com a inscrição:

"Viajante que passas, vai e diz a Esparta que, obedientes às suas leis, aqui jazemos."

sábado, março 17, 2007

Pensamentos de uma noite chuvosa...

E aqui parado, olhando ela se arrumar, eu me pergunto: onde foi que eu acertei TANTO na vida, para ter uma namorada tão linda, tão maravilhosa, tão perfeita? Como não amá-la desse jeito tão incrível, como eu amo? Não sei, só sei que ela é tudo isso e muito mais, e eu realmente AMO ela... Muito...

sexta-feira, março 02, 2007

Crônica: Futilidade é coisa de Macho

Na vida acabou se criando uma convenção de que as mulheres foram, são e sempre serão fúteis. Nós, homens cultos, estudados e que valorizamos quesitos menos cotados como inteligência, cultura e presença de espírito simplesmente convencionamos para a sociedade de que as mulheres são, em sua esmagadora maioria, fúteis. Mesmo a menos fútil das mulheres ainda é fútil, ainda se escabela por causa de um cantinho descascado no esmalte, ainda têm aquela reação "mega-meiga" quando vêem um filhotinho, ainda acham que 2 bolsas e 6 pares de sapato é pouco.

Mas e não é verdade? Realmente, as mulheres têm certas preocupações que vemos como o cúmulo do ridículo, como ter um ataque porque saiu na rua e viu outra mulher com um vestido igual àquele que ela não usa há 3 anos, ou largar aquela célebre frase "Aiii!!! Quebrei minha unhaaa!!!", com aquele pesar choroso na voz. Mas já pararam para pensar que nós, varões reprodutores da espécie, orgulhos da mamãe, também somos totalmente fúteis?

Pois é, nós homens, por mais "cultos" que nos consideremos, por mais "pessoas" que sejamos, também temos nossas futilidades. E uma coisa engraçada que observei é que, quanto mais "cultos" ficamos, mais exigentes e mais fúteis nos tornamos. Mas aí quando imaginamos um homem fútil, logo nos vem à mente a imagem daquele cara que se veste todo charmoso, que faz as unhas, está sempre com o cabelo bem aparado, barba bem feita (ou cuidadosamente "por fazer"), que fala sobre 10 autores diferentes (em 3 línguas diferentes), escuta jazz e personifica um verdadeiro modelo de metrossexual. Mas aí é que nos enganamos.

Realmente, um homem assim tem muitas futilidades, mas não é somente ele. Os homens "com H maiúsculo" como costumam dizer por aí são as vezes muito mais fúteis do que o mais "cult" dos intelectuais. Como exemplo de "Futilidade de Macho" podemos começar pelo clássico futebol. Quer coisa mais fútil do que o ataque histérico de um vivente na frente da televisão, xingando o juíz e quase chorando, por causa de um gol perdido? Ou a capacidade de citar a escalação do seu time do coração dos últimos 5 anos, com a mesma convicção e rapidez que uma mulher conseguiria citar os estilistas de uma grife famosa na última coleção outono/inverno.

Mas não é somente no futebol que vemos o quanto nós, machões, somos fúteis. Quer maior frescura do que ficar escolhendo marca de cerveja? O resultado vai ser o mesmo afinal, variando apenas a intensidade da dor de cabeça no outro dia. Ou a babação que é quando passa aquele Mustang 67 vermelho conversível, bem devagar. Quer maior futilidade que dois homens discutindo a relação custo/benefício de um motor 1.0 e a de um motor 1.6? Só o que o carro tem que fazer é andar e gastar pouco, o resto é besteira!

Bem, não precisamos ir tão longe assim, não precisamos ser tão extremos, para mostrar como nós homens somos fúteis. Querem exemplos mais simples? O lado da cama em que dormimos, o tipo de cueca que preferimos, determinado modelo de calça, tênis/sapato, aquela vontade de comprar um sobretudo de couro bem estiloso, aquele óculos escuro que nos deixa com "pinta de malvado", o cuidado com a barba (mesmo que este cuidado seja ser apenas "totalmente descuidado"), a maneira como defendemos com socos e pontapés (mulheres defenderiam com unhas e dentes) o nosso estilo de vestir, falar e viver, e como nos sentimos superiores por sermos Homens, machões gostosões e desejados, quando uma mulher passa e fica olhando para nós. Isso tudo são futilidades, se formos analisar com os mesmos olhos que analisamos as mulheres.

Mas não pensem que eu estou me eximindo de qualquer culpa nessa história. Eu creio que sou um dos homens mais fúteis que eu conheço, por várias razões. Citando apenas algumas, todos que me conhecem sabem pelo meu capricho em usar óculos escuros ou coloridos, e que raramente permito fotos dos meus olhos. Porque isso? Porque sou fresco! Hahaha, sou fútil sim! Sabem também como sou cuidadoso com o meu jeito de vestir, e sempre procuro compor muito bem meu estilo, seja qual for o do dia (meu estilo costuma variar de acordo com o meu humor, e não existe um padrão).

Tenho bastante cuidado com o meu cavanhaque, estou orgulhoso por ter parado de roer as unhas, não gosto de futebol, sou totalmente preconceituoso para cerveja (para mim a única que merece meu respeito é a Polar "No" Export, apesar de no inverno preferir algo mais quente como um bom Rum ou um vinho tinto), só uso cuecas do tipo boxer ou samba-canção (de preferência pretas) e meias de algodão (abrindo excessão somente para meias sociais, para usar com sapato), gosto de dormir do lado direito da cama, odeio que mexam nas minhas coisas ou que entrem no meu quarto sem pedir, babo por carros "tunados" (ainda vou ter uma "tunadora").

Sou doido para ter um sobretudo de couro desenhado por mim (acreditem, eu tenho os desenhos dele), quando estou cozinhando eu odeio que venham se meter, sou extremamente exigente com as coisas que faço (qualquer coisa, desde meus textos e artes, até o empilhamento das caixas de leite dentro do armário). Uma amiga uma vez me disse que eu só não podia ser considerado um metrossexual porque era novo demais, apesar de que eu acho que ainda me falta uma carreira bem sucedida e eu não tenho nenhuma vontade de me depilar (gosto dos meus pêlos onde eles estão).

Enfim, eu sou fútil, sou fresco, e não tenho nenhuma vergonha disso. Isso porque não é apenas um determinado tipo de homem ou mulher que é fútil, pois a futilidade é inerente às pessoas independente de gênero, classe, credo ou opção sexual. Todo mundo tem suas próprias futilidades, e que me atire a primeira pedra aquele que nunca sorriu para si mesmo no espelho ao ver que aquele casaco realmente caiu bem.