segunda-feira, dezembro 11, 2006

Aprendi

Reeditando o que já foi escrito... Me pareceu adequado...

:: Aprendi ::

Nessa vida eu aprendi muitas coisas. Aprendi que as pessoas são muito parecidas, e por mais coisas que elas tenham em comum, ainda assim são totalmente diferentes. Aprendi que por mais que eu tente, não consigo negar a pessoa que eu sou. Aprendi que a chuva de verão é muito boa, mas é a chuva de inverno que limpa a alma.

Aprendi que as mães são as melhores meteorologistas, e que não adianta discutir, elas sempre acertam quando dizem para pegar um agasalho que vai esfriar, ou para não esquecer o guarda-chuva pois o tempo está ficando feio. Aprendi que por mais que eu me ache autêntico e original, no final eu estou apenas tentando seguir os passos do meu pai, e me tornar melhor do que ele, fazê-lo se orgulhar de mim.

Aprendi que chá com mel e limão é ótimo para curar resfriado, que alho é um dos melhores tempêros para a comida, que chocolate quente no inverno só é bom quando se tem companhia embaixo do edredon, que não gosto de peixe cru e que um dos melhores cheiros do mundo é o do café da tarde na casa dos meus avós.

Nessa vida eu aprendi a controlar meu gênio, aceitar minhas fraquezas e enfrentar meus medos. Aprendi que a palavra proferida é como uma flecha lançada: não tem como voltar atrás, e quando atinge o alvo pode machucar profundamente. Aprendi que algumas fraquezas têm um valor de virtude, e que isso faz parte de mim. Aprendi que não adianta tentar negar quem eu sou, quem quer que eu seja, e que sempre que eu recuar por medo, vou me arrepender depois por não ter tentado.

Aprendi como subir em árvores, como construir cabanas no bosque, qual a melhor maneira de descer uma lomba de bicicleta, como fazer estilingue e trabuco, e aprendi o valor que uma boa risada com o teu melhor amigo tem, o bem que ela faz. Aprendi que amigos vêm e vão na vida da gente, mas o sentimento verdadeiro nunca deixa de existir, por mais que a vida e os caminhos afastem as pessoas.

Aprendi que o passado não pode ser mudado, e que o futuro ainda não existe. O que eu tenho e sempre vou ter é apenas o presente, e cabe a mim decidir o que vou fazer dele. Aprendi que só posso contar comigo para fazer minhas conquistas pessoais, e que é um erro colocar essa responsabilidade em outra pessoa.

Nessa vida, poucos anos que vivi até agora, aprendi tantas coisas que nem sei direito. Aprendi que posso encontrar um instante de eternidade no olhar de outra pessoa, aquele instante em que o universo parece parar exclusivamente para mim. Aprendi que um abraço sincero vale mais do que mil beijos vazios, que um aperto de mão de um amigo vira abraço com a maior facilidade, e que eu preciso desse contato físico como qualquer outra pessoa.

Aprendi que o pôr-do-sol é lindo na beira do Guaíba, mas que o amanhecer pode ser mais lindo ainda, mesmo que visto a partir de um quintal, se você estiver com a pessoa certa. Aprendi que magia existe, e está dentro de cada uma das pessoas que cruzam meu caminho todos os dias. E aprendi que é uma experiência única compartilhar essa magia com os outros.

Aprendi que é errado tentar prender alguém à um sentimento, principalmente se este sentimento partir de somente um dos lados. Aprendi que não posso exigir que alguém sinta por mim o mesmo que eu sinto. Aprendi que o verdadeiro sentimento, o que vale a pena, seja amizade, amor, simpatia, surge naturalmente. Aprendi também que as vezes leva tempo para que o sentimento surja, e mais tempo ainda para que tome força.

Aprendi que algumas feridas demoram mais tempo para fechar do que as outras, e que se ainda estão abertas é porque eu ainda sinto alguma coisa. Aprendi também que não consigo sentir coisas ruins por muito tempo pelas pessoas, e que nenhuma ofensa é tão grave que eu não possa perdoar. Tenho muita coisa boa para sentir e não tenho tempo para perder com as coisas ruins.

Aprendi que sou humano, que sofro e sinto dor como qualquer outra pessoa, e que o sofrimento de ninguém é mais especial do que o de outro. Aprendi que sempre vou lamentar pelo que perdi, mas que algumas perdas são irreparáveis, então o melhor é aceitá-las e seguir em frente. A vida não pára para que possamos enxugar pela milésima vez a mesma lágrima.

Nessa vida eu aprendi muita coisa, coisas demais, coisas que jamais deveria ter aprendido, e aprendi que os pecados que cometemos sempre carregam um pouco de penitência junto, pois por sabermos que estamos fazendo algo errado perdemos um pouco de nós mesmos. Mas aprendi que existe redenção, e que ela está no lugar mais secreto do universo: dentro de nós.

Aprendi aos poucos a não perder a esperança tão fácil, e aprendi que mesmo que eu caia e pareça ter me rendido ao desespero, de algum lugar eu sempre tiro alguma força para me reerguer e seguir adiante. Não consigo ficar caído por muito tempo. Quando se acha que não resta mais forças, ainda temos 40% para seguir em frente.

Mas nem tudo que aprendi é tão profundo. Nessa vida eu aprendi a usar o microondas, a programar o video-cassete, a andar de patins e quase aprendi a nadar. Aprendi a usar a internet (há muitos anos atrás), aprendi a falar inglês sozinho, aprendi a me barbear, me vestir e até dar o nó do sapato sozinho. Aprendi que arroz se faz com água quente, que costela se assa primeiro o osso, que tampa se abre no sentido anti-horário, e nunca esqueci como se anda de bicicleta.

Nessa vida aprendi que nunca vou deixar de ser uma criança, que gosto de brincar com meus amigos, e que se não posso mais brincar de Comandos em Ação, tenho o RPG para substituir. Aprendi que uma das coisas mais gostosas de se fazer é brincar de lego com minha priminha, que amoleço as pernas cada vez que ouço minha afilhada me chamar de "dindo", e que vou ser um pai muito coruja.

Aprendi também a fazer fogo no fogão à lenha, a fazer pipoca, molho branco e que se deve calcular meio pacote de raviolli por pessoa. Aprendi a tocar violão, e descobri que preciso praticar muito antes de poder tocar na frente de outra pessoa. Aprendi que só serei feliz fazendo o que eu gosto, e o que eu gosto de fazer é criar. E criar pode ser qualquer coisa, desde uma frase engraçada até um layout novo para uma página.

Aprendi a desenhar, e por muitos anos esse foi o meu passatempo predileto. Aprendi a escrever, aprendi a expressar meus sentimentos, incertezas e alegrias através de palavras, palavras que eu uso na esperança de quem sabe deixar um pouco de mim eternizado, para que quando eu me for, as pessoas ainda lembrem de mim não por quem fui, mas pelo que senti. Pois o que eu sinto é o que faz de mim quem eu sou. E o que eu sou é o que está aqui, agora, nessas palavras. E é claro que tem muito mais além disso. Sempre vai ter.

Cristiano Molina
- Apenas começando a aprender...

Um comentário:

Anônimo disse...

Lendo todo teu texto me encontrei em muitas frases, em palavras soltas e em um pouco do que tu pensa.
Bom ver pessoas vulneráveis naquilo que elas mesmo sentem e conseguem descrever tão exatamente.
Adorei tanto tudo que tu escreveu. :~
Beijo!