segunda-feira, maio 29, 2006

Cinema: Muito Barulho por Nada

Não, não estou falando da adaptação de Kenneth Branagh da obra de William Shakespeare (Much Ado About Nothing, 1993). Estou falando da mais recente obra fantástica do cinema: O Código da Vinci.

Desde já aviso que, se você não viu o filme ainda, não vá adiante. Vou fazer comentários sobre detalhes do filme que estragariam totalmente a diversão de quem não viu o filme ainda.

Bem, vamos ao texto. Sinceramente, acho que a igreja católica estava com medo à toa. Primeiramente, porque qualquer cristão que abandone sua fé por causa de um filme de ficção não é um cristão de verdade, e sim alguém que estava só matando tempo, esperando alguma coisa melhor (ou talvez mais fácil). O fato de que os mais fervorosos críticos da obra serem pessoas com fortes interesses políticos (e que até mesmo admitem não terem lido o livro, nem assistido o filme) apenas reforça a idéia de que esse tipo de "crítica" é irresponsável, feita por pessoas ignorantes.

Em segundo lugar, o filme mantém a mesma mensagem final do livro. Não se está atacando a santidade de Cristo no livro, e o filme reforça essa mensagem. O que se ataca é a corrupção da fé, através da igreja dos homens. A censura, a ocultação da verdade, trabalhando com fatos históricos bem conhecidos por qualquer um que se dê ao trabalho de ler um artigo científico imparcial sobre as origens da Igreja Católica.

A mensagem final do filme, belamente ilustrada pela cena final de Robert Langdon (Tom Hanks) ajoelhado sobre a pirâmide invertida do Louvre, e reforçada pelo diálogo final entre Langdon e Sophie Neveu (Audrey Tautou), não é a destruição da fé católica. Bem pelo contrário!

Afinal, porque Jesus não poderia ter se casado, tido um filho com Maria Madalena, e ainda assim continuar sendo o homem santo que foi? Sua mensagem, tão poderosa que atravessou milênios, ainda é uma das mais belas já propagadas, e sinceramente, o filme não enfraqueceu minha fé em Cristo, nem a abalou. Bem pelo contrário, reforçou-a, com a adição de um elemento que para mim também é muito forte: a adoração da mulher, como ventre sagrado da vida. E eu creio que outras pessoas também ficaram com esta forte impressão do filme, pelos rostos que vi ao sair da sessão.

Bem, não vou me aprofundar na filosofia envolvendo o filme e suas questões polêmicas. Apesar das críticas negativas que li em todos os sites especializados que visitei (deve ser alguma vontade dos críticos brasileiros de imitarem os famosos críticos presentes em Cannes este ano), eu gostei da adaptação. Ron Howard conseguiu sintetizar na película a trama apresentada no livro, de forma que ficou bem claro para aqueles que não leram o livro, ou que não se dedicaram a estudar as teorias apresentadas no mesmo.

Claro, mas a adaptação não ficou perfeita, como já era de se esperar. Adaptações cinematográficas de livros nunca ficam perfeitas, afinal eles têm que cortar muita coisa, para manter o ritmo e ficar dentro do tempo estipulado para duração do filme. Alguns pontos que gostaria de citar, que poderiam contribuir para o enriquecimento do filme:

1) A atriz Audrey Tautou definitivamente não foi a melhor escolha para viver a policial francesa. Ela teve uma atuação meio fraquinha, e lhe falta uma característica física que para mim seria imprescindível para definir a personagem: ela não é ruiva. E a personagem é ruiva, e apesar de não ter feito falta, é um fato importante.

2) A escolha de Tom Hanks para o papel, ao meu ver, não foi a mais acertada. Apesar de Hanks estar crescendo cada vez mais como ator, e ter grandes atuações em seu currículo (bem como alguns fracassos), na minha opinião outro ator caracterizaria Robert Langdon com muito mais precisão: Colin Firth. Tanto que quando li o livro pela primeira vez, quando montei uma imagem mental do personagem principal, foi o rosto de Colin Firth que me veio à mente.

3) No filme, o roteiro transforma Jacques Sauniére em um "Grão-Mestre Tutor Secreto", e não no avô legítimo de Sophie; da mesma maneira, não foi dada a ênfase necessária para o fato dela ter cortado laços com o avô após testemunhar sua participação em um ritual pagão, fazendo sexo com uma mulher desconhecida para ela.

4) Apesar de aparecer no filme o personagem correspondente, o zelador da igreja no final do filme não é o irmão de Sophie, e não é ruivo; ao invés disso, a adaptação apresenta um bando de seguidores secretos do Priorado de Sião, e uma avó que pouco destaque tem no filme.

Claro, existem vários outros detalhes que eu acho que poderiam ter sido mais bem trabalhados, mas não são apenas pontos negativos. Apesar das modificações, a adaptação seguiu fielmente a história central do livro, apresentando de maneira maestral os cenários descritos na obra de Dan Brown. A fotografia do filme é maravilhosa, a cena final realmente me deixou emocionado (alguém ainda vai testemunhar Cristiano Molina se ajoelhando perante a pirâmide invertida, podem ter certeza), a atuação de Sir Ian McKellen ficou maravilhosa, bem como a de Paul Bettany no papel do vilão Silas, e saí do cinema com um sentimento de fé renovada (seja qual for minha fé, de fato).

Costumo ir ao cinema para me divertir, não para criticar um filme do início ao fim (como algumas pessoas que eu conheço parecem gostar de fazer), e considerei um bom investimento ter ido assistir ao Código. Recomendo...

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